Adolescência
Adolescência
Um Grito que Procura uma Identidade!
Quando nascemos mal sabemos que estamos no mundo. Sentimos e temos alguma consciência sem perceber bem onde acabamos nós e começam os outros, especialmente a mãe.
Tudo à nossa volta parece ser uma parte de quem somos, sem, contudo, termos consciência de quem somos, verdadeiramente.
À medida que crescemos vamos” apanhando as peças” para compor o quebra-cabeças que os outros nos dizem ser a vida e o que nos cabe fazer para que os outros possam aceitar-nos e reconhecer-nos como parte do seu grupo de ideias, emoções e comportamentos.
Os primeiros anos são uma contínua descoberta, pois nada do que o mundo nos mostra parece existir cá dentro, e tudo se torna estranho … mas ao mesmo tempo necessário e interessante de desvendar.
A idade da imensa curiosidade por tudo o que nos rodeia depressa nos ensina que existem “nãos e sins” que precisamos respeitar e que a liberdade de, simplesmente, descobrir, não está tão à mão quanto gostaríamos.
Embora queiramos ajustar-nos às exigências dos demais, uma parte de nós vai sendo reprimida e esquecida … como se a realidade que nos cerca seja mais “real” do que a que pulsa no nosso interior.
Rapidamente surgem os 10, 11, 12 anos de idade e com eles a necessidade de perceber onde nos encaixamos neste mundo, onde nos movimentamos e de que forma precisamos de nos encontrar, olhando à volta, tentando sentir que somos iguais a uns e totalmente diferentes de outros.
A família mais chegada parece ter sido a referência dos primeiros anos e alguns dos seus membros, sobretudo os pais, tornaram-se os nossos modelos-ídolos.
Mas, à medida que nos percebemos num mundo bem maior do que aquele onde crescemos até ali, uma parte de nós quer descobrir o que há para além das fronteiras desconhecidas.
Procuramos uma identidade que não seja a colagem aos nossos anteriores ídolos.
Na verdade, para podermos descobrir outras possibilidades, frequentemente rejeitamos aqueles que mais amamos e partimos à procura de novos modelos.
Precisamos de perceber quem somos e como somos.
O mundo começa a tornar-se uma batalha campal: dentro e fora de casa: dois lados de um mesmo campo onde a nossa vida vai acontecendo. Quem marca os golos nesse campo?
Tornamo-nos, ao mesmo tempo, observadores e jogadores, queremos perceber o jogo dos dois lados e perceber quem somos, qual o nosso papel e como ganhar o jogo da vida que nenhum dos lados consegue mostrar-nos.
A confusão instala-se e muitos são os dias em que queremos morrer, sair daquele inferno ou, pelo contrário, agredir o lado onde crescemos, as suas regras e teorias e investir, cegamente, na novidade dos novos amigos e na deliciosa aventura de jogar sem regras, experimentar o desconhecido, saborear a liberdade de ser diferente e autónomo.
O jogo começa a entrar em crise. Os pais e a família tornam-se árbitros estranhos e injustos.
Os seus defeitos saltam, cada vez mais, à vista e os seus gritos ou castigos parecem anunciar o fim de um amor que outrora sentimos.
O que mais desejamos é que nos entendam e que nos amem incondicionalmente, mas o medo que os pais têm de nos perder para o outro lado do jogo, faz com que a comunicação seja difícil e sem retorno…
Como seria se, em vez de lutarmos contra o processo, nos tornássemos seus facilitadores conscientes e abríssemos mão da ideia de que somos os “donos” dos caminhos que cada um dos nossos jovens precisa de percorrer, ajudando-os a encontrar a solução para ganhar o seu próprio jogo?
E se cada jovem tiver em si um jogo só seu, único, que honra e respeita o seu direito a explorar-se e a conhecer-se em todas as suas facetas?
E se os jovens não tiverem que seguir os passos dos mais velhos, porque os satisfaz pensar que eles são “seus” e que eles são pertença sua?
E se conseguíssemos “crescer” cá dentro e nos abríssemos a ser honestos connosco mesmos, retirando dos nossos jovens o pesado fardo de serem uma continuação das vidas dos mais velhos, sem direito a descobrirem o que só a eles compete explorar e viver?
E se o Amor que tanto lhes queremos dar, não for, muitas vezes, uma verdadeira abertura e aceitação de quem são, mas sim um esquema de controlo e manipulação afetiva, procurando neles o “amparo” emocional que ainda não nos demos a nós mesmos?
E se percebêssemos o processo educativo mais como uma viagem conjunta de aprendizado, crescimento e respeito de nós mesmos, em honestidade e integridade com as nossas próprias dificuldades interiores, tornando-nos espelhos de autenticidade, auto-confiança, auto-respeito e dignidade?
E se nos déssemos a liberdade de abrir mão de sermos os pais perfeitos, assumindo uma responsabilidade impossível sobre os nossos filhos/alunos, como se eles fossem uma “peça” nossa e nos caiba a nós torná-los felizes e obedientes às nossas limitações e crenças?