As Leis do Medo – Parte 1
As Leis do Medo – Parte 1
2023 – Um Ano sem Rede
Após as grandes expectativas que 2022 trouxe a muitas pessoas, muitas delas sem rosto nem forma, entrámos em 2023 com um enorme ponto de interrogação acerca do que esperarmos e de como seria viver, dados os enormes desafios com que a humanidade se depara.
Viver sem certezas, sem segurança, ir ao encontro de um destino desconhecido, levando connosco uma leve esperança, um coração tímido, mas promissor… apenas com a certeza de que iremos viver um dia a dia incerto, sem contornos, sem balizas e sem rede…
A revolução a que estamos a assistir invade todos os quadrantes da realidade humana.
Diariamente estamos, pouco e pouco, a criar novas referências para uma realidade que nos surpreende, a cada instante, dando passos no “escuro”, como se avançássemos para um destino oculto, com uma venda nos olhos.
Confusos e sem certezas procuramos na ausência das antigas referências, um sinal que nos situe no passado próximo e nos dê a sensação de que estamos em terra firme, como se precisássemos de uma bengala para amparar os nossos passos…
Atravessamos a ponte entre mundos, sem perceber que não há retorno possível e que por mais que queiramos olhar para trás … o passado está morto e não voltará mais.
Mas há, certamente, lições a aprender para podermos continuar a viagem e seguir em frente.
O ajuste aos novos tempos deixou de ser opcional.
A sustentabilidade da nossa vida empurra-nos para os braços de uma rápida adaptação ao mundo e às circunstâncias que nos rodeiam.
Muitos pontos de vista, pressupostos e verdades estão a deixar de fazer sentido, tornaram-se inoperantes e incapazes de se manterem líderes da mentalidade com a qual temos vivido.
– Como será a vida daqui para a frente?
– Como viveremos os desafios do momento?
– Quem nos defenderá?
– Em quem podemos confiar?
– Com o que é que podemos contar?
– Quem nos irá manter as garantias que eram certas?
– Será justo um mundo assim?
– Não teremos direito a viver muito melhor?
As lições que vão chegando à nossa vida são duras e desafiadoras. As bases de uma estabilidade que tanto marcaram a vida dos nossos pais e avós, desfizeram-se e, agora, não existem mais oportunidades que nos garantam a certeza de um amanhã próspero e saudável.
A insegurança, a dúvida, o medo parecem ser companhias cada vez mais constantes!
Para muitos o ” baixar de braços”, a “impotência”, leva-os a paralisar os seus múltiplos recursos, presos como uma aranha, na teia dos seus próprios pensamentos.
Para outros a incerteza incita-os a reagirem agressivamente, contra si e contra os outros, considerando-se vítimas legítimadas para atacar, maldizer, desmotivar e enfraquecer a capacidade de “dar a volta” e encontrar soluções, em si e nos outros.
Para avançarmos de cabeça erguida há que aprender com as experiências do passado e recomeçar com uma nova mentalidade e atitude, capaz de recriar uma outra forma de pensar, estar e viver.
É fácil abrir mão do que nos é familiar e conhecido? Não.
Para a maioria das pessoas o desafio de “perder” as referências é terrivelmente ameaçador e paralisante. Mas, difícil ou não, a vida segue os seus ritmos, alheia à nossa resistência e gritos estridentes …
Como nos ajustaremos?
Novas formas de pensar a vida podem abrir-nos a uma outra mentalidade que sustentará as mudanças necessárias para criarmos uma humanidade mais sábia, inteligente e criativa.
Do mundo de onde vimos trouxemos a crença na nossa insuficiência pessoal para satisfazermos as necessidades e realizarmos os sonhos que pulsam em nós.
Na nossa atual mentalidade, os outros, o mundo, têm como função olhar por nós, garantir-nos o ganha-pão, a felicidade e a satisfação dos nossos prazeres e interesses e existem na nossa vida para assumirem esse papel.
Ao esperar isso dos outros, sacrificamo-nos a devolver-lhes as mesmas garantias, através de obrigações de retorno, como paga pelo que esperamos e exigimos deles.
Por muito românticos que estes acordos pareçam ser, a verdade é que não nos demos o espaço para expandirmos a consciência de Quem e Como verdadeiramente somos, para além dos papéis que aceitamos ter na vida dos outros e dos papéis aos quais os aprisionamos a nós.
Quanto custa crescer?
Bastante, talvez … deixar partir toda uma mentalidade envelhecida e gasta que tem os seus dias contados!
Quantas crenças derivam desta mentalidade na qual a liberdade e a honestidade foram exoneradas a troco de uma pressuposta compensação, atribuindo um alto valor ao sacrifício e à limitação?
Chamámos amor àquilo que aniquila o verdadeiro Amor.
Chamámos verdade àquilo que esconde a Verdade autêntica.
Distorções desta natureza criaram um mundo de dor, frustração e mágoa, cheio de medos e culpas, de tal forma que ninguém escapa a esta teia, tendo, ao longo dos séculos, levado a humanidade a ter atitudes de total irresponsabilidade e inconsciência e ainda assim, a chamar-lhes atos de heroísmo ou santidade.
Dependendo de quem conta a história, as atrocidades dos “vencedores” são chamadas de “atos heroicos” e vice-versa.
Existirá algum vencedor livre? Se para “vencer” é preciso “aniquilar” outro, que tipo de paz conseguirá manter, senão mentindo a si mesmo e aos outros?
Quando temos espaço para “ter”, esbanjamos,
por não sabermos onde vive o equilíbrio.
Quando não temos, paralisamos, pois não sabemos como nos abrir a receber.
Numa humanidade dividida entre o bom e o mau, a paz e o equilíbrio são impossíveis.
Não se trata de fugir para o “lado bom” e torná-lo a verdade e a escolha certa.
Trata-se de crescer para além deste jogo viciado entre o bom e o mau, pois como pode o “bom” ser a verdade se ao julgar o mau está, apenas, a reafirmar o seu ponto de vista?
E se existir a Verdade acima de qualquer ponto de vista?
Bom para quem?
Mau para quem?
A inconsciência em que temos vivido, cega em si mesma, tornou-nos cada vez mais cegos e ignorantes da Verdade e de Quem realmente somos.
Crescemos para “fora” para o “fazer” mas encolhemo-nos para “dentro” para o “Ser”. Haverá vida no “fazer” com um “Ser” enfraquecido ou esquecido?
Milhares de pessoas vivem asfixiadas no “fazer” seguindo gurus que vendem as suas fórmulas mágicas para garantir o sucesso do “fazer” e chamamos a isso “progresso”.
Hoje, vemos um mundo esgotado com o constante “fazer”, por pessoas que se perderam, completamente, de si, do seu “ser”.
Elas são incapazes de viver sem o consumismo devastador e a alienação nas televisões, internet e outros, vivendo como autómatos de estimulações maciças, em reação automática e inconsciente aos estímulos exteriores.
Seremos apenas “fazedores humanos” depauperados, autómatos, dependentes de estímulos contínuos, inconscientes e doentes, deprimidos em larga escala e absolutamente desempoderados?
– Até onde e quando poderemos ir sem destruirmos a experiência humana?
– Haverá razão de ser para a mudança urgente e necessária a que chamamos CRISE?
– Quem ou o que é que nos salvará da nossa própria alienação?
Apesar dos muitos esforços para encontrarmos soluções no “fazer”, enquanto nos esquecermos de trazer às equações de resposta a Consciência do “Ser” que Somos, não conseguiremos alcançar a paz e o equilíbrio que desejamos, pois o nosso foco continua enredado nas teias da limitação, da insuficiência e na incapacidade.
Na travessia entre “mundos”, é preciso caminharmos com a consciência de que estamos, de facto, a deixar um mundo regido por uma mentalidade de medo e a preparar-nos para criarmos um mundo de Liberdade e responsabilidade, onde a dependência, a impotência e a insuficiência não têm mais lugar.
Imagine, amigo leitor, o que será um mundo livre de tais limitações, uma humanidade em expressão plena de si mesma, como seres livres e auto conscientes?
Será utopia? Decididamente não!
Será mais fácil viver como vivemos,
correndo para o precipício da nossa inconsciência?
Quanto mais depressa aprendermos a olhar para nós e por nós, mais a vida nos tratará como seres maduros, responsáveis e conscientes.
Enfrentar os fantasmas da atual mentalidade tão limitada e dominada pelo medo fará de nós soberanos sábios e esclarecidos, cientes do seu poder e capacidades, a quem um novo mundo será entregue!