Morrer à Sede
Morrer à Sede a Beira do Rio da Vida
Viver – Uma Aventura pelos meandros da mente…
Em criança ….
Desde que nascemos iniciamos uma aventura por entre os dias, meses e anos na esperança de descobrirmos o enigma que cada dia encerra, mergulhando na vastidão de um futuro que mal conseguimos abarcar com a nossa imaginação.
Criadores natos não resistimos à tentação de explorar o mundo que nos rodeia, maravilhados pela descoberta contínua de sensações e imagens que povoam o nosso inocente mundo interior.
A alegria e o regozijo de cada experiência enche cada momento que vivemos e a Vida torna-se uma aventura deliciosa através do desafiador desconhecido…
Aos poucos as vozes do mundo que nos rodeia começam a invadir este estado de pura inocência e desfrute, criando regras para que possamos olhar para tudo como todos os outros.
Ser igual a todos torna-se uma lei, sem a qual deixamos de ser aceites e amados.
O estado de Amor natural, onde todas as coisas são porque são, começa a ser golpeado por um catálogo de nomes e significados que vão encarcerando a doce e pura inocência, confinando-a a uma grelha de “podes” e “não podes” que tem como objectivo afastar-nos da união natural com o Todo da Vida.
E a aventura torna-se um aprendizado de limitação que o mundo lá fora parece apreciar e valorizar, dividindo a dança da Vida em fragmentos que vivem de costas viradas entre si.
As primeiras lágrimas inundam os nossos olhos e o coração sente o aperto do afastamento, da quebra do êxtase em que vivíamos… Já nos esquecemos… ou não!
A um nível mais profundo, naquele espaço que escapou à tempestade do medo que o mundo protege e diviniza, a Verdade ficou salvaguardada e a sua memória mantém-se intacta, porém, silenciosa e “em espera”.
Hoje, as contas para pagar, os desentendimentos entre uns e outros, a gestão da prisão afectiva com aqueles de quem pensamos depender, os fantasmas da perda e da impotência e a alucinação colectiva parece comprovar que a Vida é mesmo assim…
O desejo ardente de “matar a sede” de ser feliz e voltar às origens, fervilha dentro de nós e o que parecia entreter a nossa vida parece já não ter valor suficiente, nem sequer um propósito que anime os nossos dias…
Embrulhados numa cultura de complexidade e confusão, incongruente e ilusória, fraca de inteligência e capacidade para reconhecer a sua própria limitação, acreditamos que a saída desta matriz disfuncional terá de ser feita através da mesma complexidade, pois a Vida tornou-se um enigma cheio de rasteiras e incompreensões, quase impossíveis de descodificar.
Segundo o Curso em Milagres existe uma linha muito ténue entre o Céu e o Inferno.
Ambos são escolhas nossas. Quando olhamos para o mundo, a mente que o interpreta pode fazê-lo com os princípios do Amor ou com os do medo. Assim o resultado obtido, isto é, a percepção do que vemos, pode ser diametralmente oposto, gerando experiências de Amor ou medo.
Entre o Amor e o medo
Pensar com o Amor ou com o medo.
O que aprendemos a ver como amor, não é mais do que, frequentemente, uma versão mascarada de medo.
O amor-necessidade parece ser muito normal e através dele acreditamos que podemos encontrar a verdadeira Paz e o Amor que tanto desejamos!
Por quanto tempo?
Quantas vezes o amor-necessidade vira medo, raiva, culpa, frustração e dor?
Será o amor uma farsa?
Uma promessa não cumprida de trazer o Paraíso à Terra?
Se o mundo que vemos e experienciamos não corresponde às promessas desse amor, porque continuamos a acreditar nessa mentira?
Toda a nossa mentalidade está assente na ideia de que somos incompletos e a vida mostra-se dividida em duas partes que se opõem e lutam contra si mesma.
A MENTALIDADE HUMANA FUNCIONA EM OPOSIÇÃO, em luta.
Não tem que ser assim!
Estaremos prontos para quebrar o véu da ilusão?
O que será preciso fazer para nos permitirmos parar e reflectir?
Os valores de ontem parecem estar a ruir e o mundo a descambar! A difícil viragem para permitir uma ampliação de consciência começa a ser inevitável. Aquilo que “parece” ser tão real e verdadeiro poderá começar a ser percebido como, apenas, uma possibilidade entre milhões de outras!
Nada do que se apresenta tem o significado único que a nossa mente projecta. Por mais que nos pareça familiar, as nossas percepções podem e são enganadoras. O cérebro habitua-se a seleccionar informação que mais se ajusta aos seus hábitos associativos!
Tudo nos parece tão real e tão comum, porque a mente repete, insistentemente, os mesmos padrões e o cérebro continua em automático a oferecer-nos a visão de um mundo em “crise”, limitado, avassalador e gigantesco.
“Lá fora” todas as vozes do mundo se erguem para fundamentar e manter “ a farsa” experiencial em que estamos mergulhados. Aprendemos a pensar desde crianças de forma viciada e auto-sabotadora!
Como? Eis alguns exemplos:
Se virmos uma garrafa com água até metade, pensamos que ela está meia cheia ou meia vazia?
Se alguém nos der um encontrão, na rua, pensamos que vai distraído ou que é bruto e sem maneiras?
Se olhamos para uma pessoa vestida com uma roupa diferente daquela que consideramos adequada, achamo-la criativa ou sem gosto?
Se a pessoa com quem vivemos não nos dá um “bom dia” afável e carinhoso é porque está com sono, ou meio acordado, ou, antes pelo contrário, por já não quer saber de nós?
Se a pessoa de quem gostamos não dá aquele elogio que estávamos à espera é porque gostou do que viu e isso é suficiente, ou porque estamos horríveis e ele ou ela não nos querem magoar?
A visão que temos da vida é deturpada e ilusória. Achamos que o mundo vive para nos satisfazer as carências, as dependências e necessidades.
Todas as pessoas orbitam à nossa volta com o único objectivo de corresponderem às expectativas que o cérebro se habituou a criar.
As atitudes e os seus comportamentos são desenhados para “NOS” afectar da maneira que desejamos ou esperamos, de acordo com os nossos medos e anseios.
Morremos à sede à beira do Rio da Vida!
A viagem do Inferno ao Paraíso interior e exterior desenha-se, a cada momento, com a maneira como interpretamos o que vemos. Não existe sofrimento, felicidade ou bem-estar senão na maneira como configuramos a realidade. Se tomarmos consciência desta pequena e grande diferença, podemos operar grandes mudanças na qualidade de Vida que nos oferecemos a cada instante.
Ainda que “pareça” que o mundo exterior esteja configurado de determinada maneira e que nada podemos fazer para o mudar, a consciência de que essa configuração depende, exclusivamente, dos hábitos de interpretação nos quais estamos adormecidos, acorda-nos do entorpecimento mental e, então, percebemos que o mundo lá fora pode oferecer-nos algo de diferente e que só está disponível para aqueles que se “erguem” e entram no rio para matar a sede que sentem!
Não é Deus que nos castiga ou elege para sofrer ou ser feliz!
Deus não pode ser uma desculpa para a nossa incapacidade de mudar e acordar para a Verdade de quem Somos!
O mundo oferece-se a cada um de nós, pleno de oportunidades e portas abertas! O condicionamento do cérebro leva-nos a criar a nossa própria escravidão experiencial.
A liberdade está a um clique na consciência de cada um de nós!
Como mudamos tudo isto?
Consideremos que o mundo é neutro em si mesmo! É a nossa visão pessoal e colectiva que nos faz viver um sub mundo de impotência e limitação.
Por “debaixo” dessa visão doentia, existe um mundo fulgurante disponível para nos oferecer o Paraíso aqui, onde estamos, naquilo que parecia ser um pequeno GRANDE Inferno.
Será que a “crise” é, apenas, uma onda colectiva de medo que encobre a fartura e a paz que estão à nossa espera?
Será que a distância entre o Céu e o Inferno é uma simples percepção ou atitude mental?
E se fosse? Seria irónico, não seria?
Se o caminho da pobreza, da doença e da limitação já estiver suficientemente gasto para nós, certamente, estaremos em boas condições para iniciar um outro caminho de regresso a um reacondicionamento mental que nos oferece tudo a que temos direito!