O Poder das Palavras
O Poder das Palavras
Comunicação ou bloqueio?
Muito se tem escrito e falado sobre a força e o poder das palavras ao ponto de muitas pessoas se assustarem e reprimirem o seu discurso natural com medo de se tornarem vítimas de poderes ocultos e ignorados e que as suas vidas fiquem sujeitas aos sons que emitem.
Na viragem dos tempos que estamos a viver, não podemos mais manter-nos na santa ignorância de tudo o que ouvimos, pois para tudo existe uma boa razão e ela nem sempre é percebida quando as nossas mentes estão por demasiado reféns do medo e do desconhecimento.
Porque se diz que as palavras têm poder? Serão as palavras em si mesmas, meros sons que emitimos por condicionamento associativo do cérebro, sem qualquer impacto sobre nós?
Quando, em pequeninos, aprendemos a falar, acontecem vários mecanismos no cérebro que associam os sons que nos chegam a objetos, experiências ou circunstâncias as quais estão no nosso horizonte de perceção. Essa associação pode ser repetida muitas e muitas vezes, até que fica interiorizada e se torna um movimento associativo do cérebro, automático.
Por via da repetição geram-se memórias experienciais que ficam retidas em nós e que serão, depois, articuladas e reforçadas, no dia-a-dia, à medida que o uso da linguagem se torna mais e mais fluente.
Assim, podemos pensar sobre o significado de cada palavra sob dois pontos de vista:
– o mental
– o emocional.
Mentalmente, atribuímos um significado e valor às palavras através da mente racional e intelectual.
Os dicionários são uma preciosa ajuda nesse sentido. Porém, poucas vezes damos atenção ao contexto experiencial que cada palavra, ao ser pensada (som interior) ou falada (som exterior) tem sobre nós.
Esta desconexão entre o que pensamos de um palavra, racionalmente e a sua ressonância emocional interna faz com que vivamos em profundo desalinhamento entre o que queremos dizer e o que isso despoleta em nós, como experiência absolutamente subjetiva.
Muitos dos desentendimentos entre as pessoas acontecem porque aquilo que é dito tem, para o emissor, um significado e o que é “ouvido” pelo outro ou outros é “sentido” e entendido através da sua experiência interior.
Assumimos, frequentemente, que o que queremos dizer é aquilo que o outro entende.
Nada pode estar mais longe da verdade. O que dizemos desencadeia em nós uma experiência interior própria e única. O que ouvimos dos outros segue a mesma dinâmica. Porém, o que os outros dizem e escutam pode ser bem diferente daquilo que aquele que falou ou escutou intencionou e sentiu.
Graças ao pouco entendimento que temos sobre os mecanismos da verdadeira comunicação, os desentendimentos entre os seres humanos são contínuos, levando-os a criar todo o tipo de conflitos entre si, não só ao nível pessoal, como coletivamente.
Convenhamos que está na hora de crescermos e nos tornarmos mais conscientes do que se passa connosco e do que significa comunicar, deixando de nos apegar a “modelos” racionais e estratégicos para conseguirmos comunicar com maior eficácia.
A comunicação não é algo que se aprenda de fora para dentro, ignorando o processo interior daquele que comunica. Como em todas as outras investidas do intelecto, abordamos os assuntos da convivência humana, sem consciência do fosso que continuamos a criar entre o que “queremos” que funcione por estratégia e teatro social, ignorando o mundo interno dos seres humanos e o que é sentido e intencionado, genuinamente, pelo comunicador.
É claro que é bem mais fácil usar o intelecto e as suas eruditas avenidas para “montar” soluções que sejam manipuláveis e ajustáveis aos interesses sociais, culturais, políticos, económicos, etc, etc.
Porém, para nossa sorte, estamos a ser confrontados com a derrocada “inexplicável” das estruturas de “barro” do intelecto, deixando-nos de mãos e mentes vazias à procura de uma saída dentro desse intelecto, sem qualquer sucesso.
O tempo da mentira está a acabar. A ilusão de que podemos “aprender” a comunicar “fazendo de conta” sem que a consciência seja chamada a intervir, está a dar os seus últimos passos, neste planeta.
Também aqui estamos a assistir ao anseio da humanidade que cada vez mais ergue a sua voz e diz: “Não Mais”!
Vamos ao encontro da verdade, honrando o que se passa, resolvendo o que não está em sintonia com a verdadeira comunicação e deixemo-nos de “mascarar” os processos.
O que dizemos tem, verdadeiramente, a ver com o que se está a passar em nós e não com o que está a acontecer lá fora.
Se cada um de nós compreender esta dinâmica e a consciencializar, dentro de si, verá que deixará de atribuir aos outros e ao mundo a responsabilidade por tudo o que se passa na sua vida.
Quando comunicamos para fora, dizendo aquilo que só nos diz respeito a nós, acreditando que o dizemos porque é importante para os outros e somente para eles, dissociamo-nos da verdade de nós mesmos e perdemos o filão da verdadeira comunicação.
Isto significa que nunca devemos falar com os outros? Não.
A qualidade da comunicação melhora, substancialmente, quando pronunciamos palavras que estão em sintonia com o nível de consciência que temos e nos sentimos congruentes com a intenção e a experiência interna.
Na verdade é um alinhamento profundo que precisamos de fazer:
Consciência – Intenção – Experiência – Consciência
Porque só comunicamos connosco, a um nível mais profundo da realidade, o retorno daquilo que oferecemos volta a nós, e com ele expandimos a consciência ou contraímo-la!
Quando escutamos as palavras de outros, em vez de os responsabilizar pelo bem ou mau estar que nos causam, tornando-nos suas vítimas e oferecendo-nos para o sacrifício do coitado de mim, a fim de os fazer sentir culpados, podemos aproveitar a oportunidade para consciencializar em nós os mecanismos de sofrimento que estão em ação e curá-los.
As palavras não têm valor em si mesmas.
Se ouvirmos alguém falar em chinês ou russo, por exemplo, e nada conhecermos sobre essas línguas, o mais que podemos fazer é criar associações com os sons da nossa própria linguagem e imaginar significados que nos agradam ou desagradam. Mas não passará de uma fantasia mental.
Cada palavra vale pela experiência pessoal interiorizada e reforçada pelos múltiplos reforços que a sua articulação nos vai trazendo.
Conheço pessoas para quem a palavra “Paz” pode ter um impacto mental de acordo e aceitação e um impacto emocional de “rejeição” ou profundo “mal-estar”. Isto não é aberrante! É o que acontece por todo o lado, de formas diferentes, com palavras diversas.
O conceito associado a cada palavra pode ter sido interiorizado através de experiências que, em vez, de nos trazerem bem-estar, foram sentidas como ameaças, medos, inseguranças, etc.
É o que acontece quando ensinamos às crianças que só são amadas quando satisfazem os interesses dos outros, inclusive dos seus pais.
A palavra AMOR passa a ser associada com sacrifício ou perda.
Podemos, assim, imaginar a enorme confusão que vive em cada um de nós, à medida que utilizamos palavras que estão inseridas no nosso discurso, por via de um mecanismo mental e intelectual (intenção intelectual) e a articulação das experiências emocionais que elas causam, interiormente!
Os conflitos que se geram, só podem gerar stress, insatisfação e incapacidade de viver a vida que desejamos.
Estamos em permanente guerra interior e, enquanto não tomarmos consciência dela, não conseguiremos levar o nosso “barco da vida” a bom porto.